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Mostrando postagens de agosto, 2017

Kirtimukha

O tempo acaba com o tempo- Sem início, sem fim, Que nome há pra isso? A vida devora a vida, E pelo seu fim Reinicia. A face da glória se devora E o pôr-do-sol a aurora imita.

Tempos de Guerra

O dia passa com bravatas E o seguinte com ruínas. Lesmas ensaboam as praças e vespas plotam um motim. As formigas exibem suas armas  contra a super potência dos cupins. Os cães protegem as casas e as cigarras choram pelo fim. O tempo, como um tigre, boceja e com um salto sai de sua tocaia. Ele vem com passadas pesadas e se deita na parte mais verde do jardim. O dia passa com bravatas E o seguinte com ruínas. Lesmas ensaboam as praças e vespas plotam um motim. O tigre dorme.

Meditações em Azul Escuro

Meditando sobre me ver como um personagem,  olhando à distância,  acabei arrumando o armário;  amarrei os sapatos.  Me cerquei dessa sonolência adequada  mas deslocada no tempo.  Me vi perdido e achado na linguagem,  na arte,  no movimento,  mesmo estando parado, no momento.  As soluções estão nas pontas dos dedos; e desenhando ou escrevendo eu vejo a infância à distância, mas não vejo simetria.

Desintoxicar

Vou cansar meu corpo para suar a toxina e vou ferir meus dedos - ao invés de arrancar os cabelos - desenhando e escrevendo. Vou me purificar desse veneno me encharcando de terebintina e vou tacar fogo nos meus membros e vomitar conselhos obscenos. Vou arrancar as camadas de pele e osso e desintegrar o reboco do coração. Não vou manter intacto o que o passado cobriu sem pedir licença. Vou me desfazer até que só reste a saúde não controlada por remédios e favores. Quero me limpar retrocedendo até o segundo incandescente antes do meu nascimento

Aterro de Vidas

  Em Agosto de 2014 o fotógrafo e amigo Andrey Botelho me convidou para elaborar um texto para acompanhar um projeto fotográfico sobre famílias vivendo no aterro sanitário de Montes Claros - MG.  Com o tempo as perspectivas e palavras mudaram, mas a realidade permaneceu revoltante e triste. Publicado originalmente no site de   Andrey Botelho   (onde outras fotos podem ser conferidas) republico agora o texto Aterro de Vidas.    Pela manhã, Raíssa brinca com os cachorros e as galinhas. Entusiasmada, mostra o novo cachorrinho que não parava de latir perto do fogão à lenha. Dona Dada, mãe de Raíssa, escuta com atenção as instruções para o remédio comprado na farmácia, e depois me explica sobre as plantas no meio do lixão: “Saião é remédio pro ouvido”. As vizinhas conversam, riem e trabalham; sujas até os cotovelos, sem parecer perceberem o cheiro que dá dor de cabeça.      Há mais de vinte anos, Dona Dada é uma das pessoas que mora ao lado Aterro Sanitário de Montes Claros, onde

Saímos para Jantar

Saimos pra jantar Eu, Satanás e Belzebu. Belzebu, esfomeado, comeu filé de mosquito flambado Satanás, mais elegante, comeu cadáver flamejante. Eu, indeciso, pedi a Cthulhu uma sugestão.  Mas de Rl'yeh num rompante inesperado ouvi um grito de frustração:  "O que acha que eu sou, Tio Lu? cozinheiro do diabo?  O menu era um papiro da tumba de Azatoth cuja linguagem cabalística era revelada  com o bater de asas de um corvo (ou uma gralha) que insistentemente explicava:  o couvert artístico, pra que os clientes tenham paz Estes poetas do obscuro cobrarão...  Nunca mais! E no muro de pedra estava escrito Que com o alinhamento dos planetas,  ou toda terça-feira “Abandonarás toda esperança vós que entrais”