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Mostrando postagens de maio, 2016

LUMO

A abóboda se erguia de uma lâmina de água negra e dourada até o limite da visão. Na água paralisada uma canoa esperava que alguém a conduzisse até o centro, desenhando um raio naquele círculo gigante. No centro havia uma ilhota com um vegetal brilhante que emitia sons. A forma como a planta crescia – em simbiose com fungos e colônias de bactérias – exigia a escuridão: Seu ego era muito grande para disputar com o brilho de um sol, e por isso apenas no planetóide escuro Caronte II a planta aceitava existir. O planetóide exterior tinha uma crosta congelada, mas que abrigava em cavernas submersas vários bolsões de ar. Nestes bolsões a vida se espalhava homogênea na forma de plantas brilhantes. O Lumo, como era chamada a planta, também existia no Tártaro, que por sua vez era uma cúpula inteligente de tecnologia alienígena. Ela havia sido criada há muito tempo, e a raça que a ergueu deixou apenas aquelas paredes ovais e douradas como herança: o único habitat artificial capaz de gerar Lu

Drakkar e Trirreme

Um de mim quer navegar o Drakkar no Tâmisa  e o Trirreme no Eufrates. Outras partes querem dormir. Às vezes as vozes recitam Wittgenstein e Foucault, relembrando Henry David Thoreau e trepando com Ayn Rand. Meu nome é Alexander Supertramp. Um de mim quer navegar o Dragão do mar Outras partes querem dormir Quero ser dinamarquês invadindo toda a Europa, e eu quero ver o sol despontar de manhã mas minhas partes dizem que é madrugada,  e me levam acorrentado prum sono  de apenas três horas.

Fábula - O Corvo e o Gongolô

Coberto pela noite e pelo chão, Gongolô se enroscava em sua rachadura. Era uma casinha simples e discreta, mas lá ele tinha tudo que precisava. Entre as paredes de madeira Gongolô se abrigava e conseguia comida sem nenhuma dificuldade. Aos sábados ele comia vermes, e nos outros dias salada. Vivia alheio a tudo, desprezível em seu buraco, escondido numa fresta de madeira de uma raiz qualquer. Todo dia à noite depois de jantar, Gongolô saía da sua toca para olhar o céu. Pensava que o céu era verde e marrom; e às vezes meio mal-distribuído. Assim era o céu para ele; o teto de uma toca intransponível, muito maior que sua casinha. A visão lhe causava pavor e admiração que não conseguia controlar. Dependendo do dia, ria de sua própria pequenez ou se enroscava de medo. Hoje ele estava todo enrolado. Do lado de fora o predador falava: - Há! Eu já falei. Não é nada demais, posso te levar pra passear, amigo Gongolô. Do lado de dentro da toca, a voz de Gongolô era miúda: -Sai